“O impacto femoroacetabular (IFA) é causa comum de dor no quadril, e o atraso no seu diagnóstico e tratamento podem levar à artrose precoce da articulação, com sérias limitações à qualidade de vida.”
Anatomia
O quadril é uma articulação esférica formada pela cabeça do fêmur e pelo acetábulo (região do osso da bacia que serve de encaixe para o fêmur). As superfícies ósseas são revestidas por cartilagem, que é um tecido liso que permite o deslizamento suave entre estes dois ossos do quadril.
Revestindo o acetábulo existe um tecido fibrocartilaginoso chamado labrum acetabular, que atua na vedação e estabilização articular, além de proteger a cartilagem que reveste a articulação (figura 1).
Causas
Alterações no formato da articulação, que podem ocorrer durante o desenvolvimento/formação do quadril ou secundariamente a doenças do quadril na infância, levam ao surgimento de saliências ósseas (ao redor do colo do fêmur e/ou do acetábulo) (figura 2). Ao longo dos anos, o contato inadequado (atrito/impacto) entre essas saliências ósseas e a cartilagem/lábio acetabular (durante a atividade física, por exemplo) pode levar à lesão progressiva dessas estruturas de cartilagem e dor no quadril (vídeos 1 e 2). Entre as causas mais comuns de lesão encontram-se modalidades esportivas que envolvem mudanças bruscas de direção e movimentos rotacionais de quadril, tais como futebol, atletismo, tênis, basquete, ballet e ginástica.
Sintomas do Impacto Femoroacetabular
A dor pode se localizar na virilha ou na região lateral do quadril. Pode piorar com determinados movimentos como agachar, girar o quadril,
subir/descer escadas, entrar ou sair de um carro, permanecer sentado por longos períodos (figura 3).
Diagnóstico
O diagnóstico depende de exame clínico e exames de imagem. O médico realiza determinadas manobras (movimentos no quadril) que desencadeiam impacto entre o fêmur e o acetábulo, as quais causam dor na presença de lesões da cartilagem e labrum acetabular. Estas lesões, juntamente com as alterações no formato ósseo (saliências) são confirmadas pelos exames de imagem, entre eles a radiografia (figura 4) e a Ressonância Nuclear Magnética (RNM)(figura 5).
Tratamento
O tratamento não cirúrgico pode ser opção em casos iniciais. Mudança de hábitos de vida, suspensão de atividades que ocasionem dor, uso de anti-inflamatórios, fisioterapia para reequilíbrio muscular do quadril estão entre as opções disponíveis.
A cirurgia pode ser indicada nos casos de falha do tratamento não cirúrgico. A videoartroscopia do quadril trata muitos dos casos de IFA, através da correção das saliências do quadril, permitindo encaixe e movimento adequados à articulação. A cirurgia também atua no foco da dor, através do tratamento das lesões presentes na cartilagem articular e no labrum do acetábulo. A artroscopia é realizada com pequenas incisões na pele e com o uso de câmeras e instrumentos especiais. Porém é preciso salientar que determinados casos podem necessitar de cirurgia aberta (com incisões maiores) para completa correção do problema (figuras 6 a 9; vídeo 3).
A gravidade das lesões e o atraso em seu tratamento são fatores limitantes para que se alcancem bons resultados. Os avanços nas técnicas cirúrgicas têm proporcionado melhora dos resultados, evitando danos futuros à articulação.